domingo, 7 de agosto de 2011

Tá ficando chato...

Já dizia a composição de Cazuza, Arnaldo Antunes e Zaba Moreau "respeito quem é radical/ respeito quem ama errado/ respeito o cara careta e o exagerado/ quem não gosta de criança/ e quer viver solitário/ quem odeia rock'n'roll mas gosta de um rebolado/ só não há perdão para o chato / perdão para o chato/ não há perdão/ o reino dos céus é do chato/ do chato, do chato/ do otário e do cagão".

O chato é o que pensamos que é politicamente correto, pois nos esquivamos de dar a cara à tapa, de buscar e exigir nossos direitos. A sociedade procura ser 100% ética em momentos que uma voz precisa ser ouvida. Nesse momento, cala-se o bom. Aquele que deveria ser exemplo à sociedade evita falar para não ser perseguido ou processado.

Aquela rebeldia que inicou nos anos 50 e se estendeu nas décadas de 60 e 70, onde o rock'n'roll ditava a moda, mudava comportamentos e influenciava gerações ficou para trás, guardada apenas na memória daqueles que sonhavam transformar o mundo. A década de 1960, conhecida como Anos Rebeldes graças aos grandes movimentos pacifistas ganhou um caráter político de contestação. Nessa época, era proibido proibir, regras inúteis ou sem sentido eram quebradas e discriminação era o mote que levava milhares de jovens às ruas. Ser radical naquela época pareceia ser a única saída.

Havia cerceamento da liberdade de expressão, afinal assombrava-nos a ditadura, mas as pessoas estavam lá para garantir seus direitos, para serem ouvidas em suas necessidades básicas. Não havia a tal vergonha alheia em lutar, em dar opinião ou exigir direitos.

Antigamente, protestava-se sem medo de ser processado. Hoje, o politicamente correto induz ao erro, à má interpretação. Hoje, são retiradas da língua portuguesa todas as palavras que, supostamente, carregam algum tipo de preconceito e chega-se ao cúmulo de aceitar a escrita errada para não discriminar. A educação, que deveria libertar e dar conhecimento para formar o eleitor e o cidadão, exclui.

Quem tem educação é menos enganado. Ter educação é ter acesso a mais saúde, mais segurança e mais cultura, pois ficamos conscientes do que realmente é necessário lutar. Quem tem educação não tem medo de se expressar. É esse o motivo que leva o governo a investir cada vez mais em presídios e cada vez menos em educação e ciência? Estamos convivendo com uma população cada vez mais massacrada por regras e leis inúteis e cada vez mais desatenta de seus direitos? Desatento aqui, é politicamente correto, infelizmente.

Hoje, ficou muito confuso se comunicar apesar do avanço tecnológico e das comunicações. Nada pode, tudo discrimina. Não há mais certo ou errado e sim, adequado e inadequado. Chamar uma pessoa de negra é caso de polícia. O politicamente correto é afrodescendente. Mas, e a cor na certidão? A minha é branca e isso não seria discriminatório? Tarado virou maníaco sexual, como se o nome pudesse explicar o ato em si. Sexo virou orientação sexual para não excluir pessoa alguma. Gay, nem pensar!

Graças ao politicamente correto, tudo ficou chato, certinho, hipócrita. O politicamente correto está acabando com todas as relações humanas, com a cultura dos países. Polêmica, hoje em dia, não vai além de "causar" nas redes sociais. O máximo é alcançar os trending topics para "fazer algum barulho".

A imprensa que deveria mostrar erros, indicar soluções e até mesmo coibir o politicamente correto está aderindo a essa moda infame. Faz o mau uso das palavras para incitar, para vender notícias. Poucos meios de comunicação vêm lutando para evitar que leis absurdas tornem nossa vida mais difícil, mas são raramente ouvidos pela população. Exemplos clássicos são a proibição de layout de farmácias que incitem a automedicação, as cotas universitárias e o mais recente, a aprovação pelo MEC de um livro didático que admite o erro de português e a recusa em retirá-lo de circulação. Todos eles excessivamente debatidos nesses meios de comunicação que enxergam além das cortinas e que não têm medo de denunciar.

Ninguém tem o direito de policiar ou julgar as ideias do outro. Entretanto, extremistas de plantão atacam sem dó nem piedade os esquecidos, pobres coitados que ainda usam essas expressões. O politicamente correto avança com uma velocidade devastadora em todos os setores de Brasília e de lá, cai no uso e, pior, no gosto do povão. Opa, desculpa, da população.

O chato é não lutar por causas justas. O chato é evitar discordar só porque alguém vai se sentir ofendido. Respeitar as diferenças e a opinião alheia é coisa diferente. E, acredite, parte disso é culpa nossa. A começar pela educação que damos em casa. Seja sincero: queremos um mundo melhor para nossos filhos, mas, estamos entregando filhos melhores para o mundo? Filhos capazes de enxergar o outro, de se doer pela minoria e lutar por eles? Nessa busca pelo tratamento especial estamos colaborando para o não desenvolvimento do país. Estamos regredindo e na verdade, oferecendo a nossos filhos não a chance de uma vida próspera e sim, a sua marginalização, pois quem não tem cultura não progride.

Respeitar aquele diferente de mim é incluí-lo como cidadão. Aquela pessoa diferente a quem não podemos chamar de negro, gay ou pobre, também paga contas e impostos, trabalha para seu desenvolvimento pessoal e para o futuro do país. O politicamente correto não aceita isso. O politicamente correto é chato porque tira do cidadão sua capacidade de progredir. E para isso não há perdão.