quinta-feira, 1 de julho de 2010

A (des-)arte de conquistar - 2

Ainda sobre o assunto, quero acrescentar que meu fracasso social também se dá em outras esferas.
A sociedade - nem preciso dizer como ela é, pois todos nós sentimos na pele as dificuldades e estresses diários - nos obriga a "rebolar conforme a música". E quando isso não acontece, há a exclusão. Meu primo - que nasceu aqui - me disse como esta selva de pedra pode ser extremamente madrasta até mesmo com seus filhos. As coisas por aqui acontecem em outro tempo, em outra realidade, bem diferente daquela que somos acostumados no interior, onde é hábito dizer "bom dia" se não por educação, que seja por delicadeza. O nível de intimidade na cidade grande é quase zero. No trabalho, a situação é a mesma. É cada um por si. Faça o seu que eu faço o meu.
Eu, que sempre usei as "palavras mágicas" (bom dia, por favor, com licença, obrigada) e que acredito que educação vem de berço, fico assustada com o desprendimento das pessoas. A desculpa é sempre o corre-corre diário, a ansiedade de se fazer tudo pra ontem. Não custa nada usar as palavras a seu favor. Pelo contrário! Você está desejando que a pessoa tenha um bom dia, um dia agradável, com coisas boas acontecendo. E quando há a recíproca, tudo de bom que você desejou naquelas simples duas palavrinhas, volta em dobro pra você. O dia fica tão mais leve!
Mas na cidade grande, as pessoas esqueceram o quanto é importante o relacionamento humano. O contacto com o outro é menosprezado por falta de tempo. Às vezes, por falta de educação mesmo... As relações interpessoais foram diminuídas, isoladas às páginas de relacionamento da internet.
Entretanto, essa manifestação (anti)cultural paulistana se dá há anos e anos e não é culpa da net, mas agravou-se com ela. A exigência de ser produtivo levou as pessoas à relacionar-se superficialmente. Mal se falam no trabalho - mesmo que dividam a mesma estação de trabalho -, mal conhecem seus vizinhos e mantém um círculo de amizades restrito, sem aberturas. E quando se vêem numa situação diferente, se sentem perdidos: lembro de uns amigos de São Paulo que foram passar as férias de julho no interior. Em casa, eles se sentiram completamente constrangidos pela maneira como tratamos os outros (lembre-se: gentileza gera gentileza), especialmente minha família. E quando perguntei à minha mãe se podia tomar banho (hábito que temos até hoje), foi o fim do mundo para eles!
É por isso que me sinto tão perdida por aqui. É exatamente por isso que me sinto sozinha e morro de saudades dos meus amigos do interior. Fazer amigos lá é uma coisa natural. Não precisamos nos esforçarmos para sermos agradáveis. É por isso que, para mim, Sampa ainda continua um lugar cinza.

Nenhum comentário: